Tema 4. Ação pedagógica e pluralismo de idéias - a questão metodológica

Entre a teoria e a prática, desvendando os complexos caminhos do discurso educacional à prática pedagógica

Cristiane Maria Cornelia Gottschalk



Os textos arrolados a seguir dispensam informações biográficas ou acadêmicas sobre seu autor, pois cada um deles fala por si, atestando o vigor das idéias de José Mário Pires Azanha e a atualidade das questões levantadas por ele. Nenhum deles propõe resultados práticos e tampouco apresenta uma determinada concepção de ensino e aprendizagem, mas apenas sugere uma linha de investigação fecunda e inovadora dos problemas educacionais, que têm como uma de suas metas a relativização dos pressupostos dos discursos educacionais vigentes, dissolvendo falsas questões que levam reiteradamente a equívocos nas práticas educacionais.

Alguns destes equívocos apontados por Azanha em seus textos estão presentes ainda hoje nos discursos e nas medidas tomadas pelos órgãos oficiais de ensino: o vezo centralizador das normas gerais, ao terem a pretensão de determinar os currículos e as práticas escolares em todo o território nacional; a fixação na figura individual do professor, atribuindo ao seu desempenho as dificuldades de aprendizagem dos alunos; o emprego generalista e dogmático de certas expressões educacionais, tais como “escola brasileira”, “desenvolvimento de competências e habilidades” etc., desconsiderando-se a diversidade da situação educacional dentre outras confusões de natureza teórica e prática que impedem uma maior compreensão da escola em sua concretude, permanecendo-se na superfície dos discursos abstratos. Nos textos a seguir, apoia-se nas reflexões de Miguel de Unamuno, Émile de Chartier (Alain), Bacon, Comênio, Hannah Arendt, Nietzsche, Wittgenstein, entre outros, para combater a pretensão cientificista de tornar o processo educativo mais eficiente, como se isto fosse possível apenas através da aplicação de novas tecnologias de ensino sem que estas sejam acompanhadas de diretrizes e propósitos, os quais transcendem o campo da ciência.

Segundo Azanha, parte destas confusões decorre de uma concepção baconiana de ciência que, transposta para o discurso educacional por intermédio de Comênio no século XVII e por seus seguidores, continua produzindo “enigmáticas ilações sobre o ensino”. Herdeiros desta tradição positivista de ciência, onde o método ocupa uma posição central, os educadores têm defendido a idéia de que ensino eficaz é basicamente a aplicação competente de um saber metodológico, epistemologicamente fundamentado em outros saberes, principalmente de natureza psicológica. Para se contrapor a esta ilusão metodológica, Azanha observa que, mesmo que existissem teorias sobre as várias dimensões do processo educativo, são complexas as questões implicadas no trânsito entre este conhecimento e recomendações metodológicas inequívocas. Em outras palavras, não há fórmulas prontas para orientar a formação do professor.

Um dos pressupostos da Didática que Azanha questiona, por exemplo, é o de que o desenvolvimento tecnológico seria uma conseqüência direta do desenvolvimento científico. Esta crença fez germinar no campo educacional a ideia de que as tecnologias educacionais pudessem ser cientificamente fundamentadas, o que despertou nos educadores “uma exacerbada atitude pró-ciência e um persistente esforço de racionalizar a educação a partir de resultados científicos”, surgindo entre eles uma mentalidade cientificista, mas não científica. Para se contrapor a ela, Azanha recorre a autores como Solla-Price e Ben Davidson, que demonstram a complexa relação existente entre ciência e tecnologia: tanto uma como outra têm desenvolvimentos independentes e apenas eventualmente uma delas propicia novas descobertas no outro campo. Analogamente, Azanha questiona a crença no desenvolvimento de uma tecnologia da educação que teria o poder de assegurar, com eficiência, a produção de alunos competentes em todas as disciplinas oferecidas pelo currículo. Pelo contrário, conclui que a atividade de ensinar não pode ser exaustivamente regulada, ou seja, métodos de ensino podem eventualmente facilitar o ensino de determinados conteúdos, mas não garantem o seu êxito. Seria muito mais proveitoso se os educadores se debruçassem sobre conceitos relacionados à vida escolar, para alcançar a tão almejada formação do discernimento do educador.




Tópicos* A autonomia do professor para escolher os seus próprios caminhos entre uma pluralidade de concepções pedagógicas compatíveis com uma política educacional democrática: a questão metodológica e a autonomia didática.
* Os pressupostos do discurso pedagógico.
* Os slogans educionais e as ilusões da didática: "ensinar a ensinar", "aprender a aprender", "aprender fazendo"...
* A "nova" excitação reformista e o "novo" mito educacional: "competência".
* A cultura escolar brasileira e as práticas pedagógicas.


I - Textos introdutórios ao estudo do tema
(documentos: 3):
Parâmetros curriculares nacionais e autonomia da escola (clique)
Artigo do periódico
International Studies on Law and Education, n. 3, p. 23-32, 2001.

Também publicado em AZANHA, J. M. P. A formação do professor e outros escritos. São Paulo: Ed. Senac, 2006. p. 105-123.


Objetivos da educação nacional e currículos para o ensino de 1°, 2° e 3° graus (clique)
Artigo do periódico
Revista da Faculdade de Educação, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 285-288, jul./dez. 1988.

Texto apresentado para debates na XXIV Reunião Conjunta do Conselho Federal de Educação com os Conselhos Estaduais de Educação das Regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste. Lindoia, SP, 17 a 19 de Agosto de 1988.
Também publicado em AZANHA, J. M. P. Educação: temas polêmicos. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 31-48.


Uma reflexão sobre a didática (clique)
Capítulo do livro
AZANHA, J. M. P. Educação: alguns escritos. São Paulo: Ed. Nacional, 1987. p. 70-77.

Trabalho apresentado no 3° Seminário “A didática em questão”, realizado em fevereiro de 1985, na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.


II - Documentos propostos para estudo
(documentos: 5)
Alain ou a pedagogia da dificuldade (clique)
Apresentação do livro
ALAIN. Reflexões sobre educação. São Paulo: Ed. Saraiva, 1978. p. VII-XIX.

Também publicado em:
Revista da Faculdade de Educação, v. 4, n. 1, p. 9-20, jun. 1978.
AZANHA, J. M. P. Educação: alguns escritos. São Paulo: Ed. Nacional, 1987. p. 44-57.


Aprender a aprender (clique)
Capítulo do livro
AZANHA, J. M. P. A formação do professor e outros escritos. São Paulo: Ed. Senac, 2006. p. 15-23.




É possível ensinar a pensar? (clique)
Capítulo do livro
AZANHA, J. M. P. A formação do professor e outros escritos. São Paulo: Ed. Senac, 2006. p. 25-36.




A questão dos pressupostos no discurso pedagógico (clique)
Capítulo do livro
NAGLE, Jorge (Org.). Educação e linguagem. São Paulo: Edart, 1976. p. 83-97.

Trabalho apresentado no Simpósio sobre "Discurso Pedagógico: Notas sobre seu Estatuto", realizado no dia 12 de julho de 1975, em Belo Horizonte, como parte dos trabalhos da XXVII Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.
Também publicado em AZANHA, J. M. P. Educação: alguns escritos. São Paulo: Ed. Nacional, 1987. p. 13-24.


Amor e pedagogia. AZANHA, J.M.P. (clique)
Discurso proferido pelo professor Azanha na sessão de colação de grau dos Bacharelandos do Curso de Pedagogia de 1972,
In documento datilografado de 19/01/1973.




II - Documentos propostos para estudo
(documentos: 5)
III- Atos legais e relatórios administrativos
(documentos: 1)
Capítulo III - Da educação, da cultura e do desporto. Seção I - Da educação (clique)
Artigo de legislação
BRASIL. Constituição Federal (1988). Disponível em: http://www.planalto.gov.br/. Acesso em: 19 out. 2010.







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