Tema 7. A pesquisa educacional e o cotidiano da escola

Cultura escolar brasileira: um programa de pesquisa

José Mário Pires Azanha



A crise atual da educação brasileira é demasiadamente visível para que possa ser negada até mesmo pelo leigo, pelo homem comum. Essa excessiva visibilidade, como não poderia deixar de acontecer, é, contudo, um poderoso fator de obscurecimento quando se quer compreender em profundidade as raízes da crise e as perspectivas de sua superação. Até mesmo o especialista, envolvido na angústia que acompanha as épocas de crise, parte da obviedade da crise para a estereotipia das análises e para o açodamento das soluções.

No caso brasileiro, todos sabemos que a crise educacional atual é apenas parte de uma crise muito ampla, que é inegavelmente política, na qual anos de sombra permitiram que os interesses coletivos fossem tratados sem a indispensável publicidade. Daí vivermos hoje uma situação política em que as exigências de discussão, consenso e transparência transformaram-se, de modo exacerbado, no critério único para viabilizar qualquer solução. Sem discutir a completa razoabilidade desse quadro, pode-se com inteira propriedade examinar possíveis efeitos da extrapolação para a crise educacional de uma exigência inteiramente justificável na vida política.

A legitimidade política da reivindicação por uma maior participação na discussão e no encaminhamento dos interesses coletivos conduziu os educadores, muitas vezes sem maior análise, a exigirem também que as questões educacionais – embora muitas fossem estritamente técnicas – passassem a ser discutidas e resolvidas por assembléias e conselhos não apenas de educadores e pais, mas até mesmo de alunos. Não se põe em dúvida que incentivar as comunidades a se interessarem pelas escolas que as servem e a pressioná-las a serem boas escolas é inteiramente defensável. Daí a admitir que a situação pedagógica não requer nenhuma qualificação profissional para a sua condução é até mes-mo urna desvalorização da formação do professor. Quais são as perspectivas de que esse encaminhamento seja razoável e contribua efetivamente para a solução da crise educacional em que vivemos? Não é fácil responder a essa questão.

Um mínimo de reflexão nos lembrará que, historicamente, o aparecimento de escolas representou a institucionalização de práticas que, pela sua crescente complexidade, exigiam a liberação parcial das famílias do esforço educativo. Esta transferência de responsabilidades foi um processo muito complexo e envolveu, em cada sociedade e em cada momento histórico, as cambiantes e problemáticas relações entre o público e o privado. Nesse quadro, não é óbvio que a interpenetração máxima entre escola e comunidade seja indiscutivelmente um benefício para a educação das crianças. Aliás, como observou H. Arendt, a propósito da crise educacional americana, esse procedimento significa até mesmo o retorno a uma concepção ultrapassada da infância e da juventude que ignorava a especificidade dessas fases da vida humana (1).

Segundo a autora, no afã de "modernizar" a educação, os educadores poderão estar simplesmente trazendo para o seu âmbito "juízos e preconceitos acerca da natureza da vida privada e do mundo público e sua relação mútua, característicos da sociedade moderna", mas que poderão revelar-se retrógrados e até mesmo perniciosos no ambiente escolar porque "a escola não é de modo algum o mundo e não deve fingir sê-lo; ela é, em vez disso, a instituição que interpomos entre o domínio privado do lar e o mundo, com o fito de fazer que seja possível a transição, de alguma forma, da família para o mundo" (2). Também, para Alain, não se deve fundir o mundo da escola e o mundo do lar.

São instituições diferentes e indispensáveis, na sua diferenciação, para o desenvolvimento da criança. Na primeira, prevalecem os afetos doados e os laços de sangue, na segunda, as relações já têm um mais forte compo-nente de regulação social. Integrar esses mundos diferentes pode, eventualmente, representar a sonegação de importantes oportunidades educativas às crianças e aos jovens, que poderiam encontrar na escola um espaço socialmente diferente daquele propiciado no confinamento familiar.

(1) "Como pôde acontecer que se expusesse a criança àquilo que, mais que qualquer outra coisa, caracterizava o mundo adulto, o seu aspecto público, logo após se ter chegado à conclusão de que o erro em toda a educação passada fora ver a criança como não sendo mais do que um adulto em tamanho reduzido?".
ARENDT, H. A crise na educação. In: ______. Entre o passado e o futuro. Tradução de M. W. Barbosa de Almeida. São Paulo, Editora Perspectiva, 1972, p. 237.
(2) Ibid., p. 23.



I - Textos introdutórios ao estudo do tema
(documentos: 5):
Universidade e escola de 1° grau: a idéia de integração (clique)
Capítulo do livro
AZANHA, J. M. P. Educação: temas polêmicos. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 37-48.

Publicado originalmente em Encontros e confrontos. Brasília: Ministério da Educação, 1988. p. 101-111.


A questão dos pressupostos no discurso pedagógico (clique)
Capítulo do livro
AZANHA, J. M. P. Educação: alguns escritos. São Paulo: Ed. Nacional, 1987. p. 13-24.

Trabalho apresentado no Simpósio sobre "Discurso Pedagógico: Notas sobre seu Estatuto", realizado no dia 12 de julho de 1975, em Belo Horizonte, como parte dos trabalhos da XXVII Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.
Também publicado em NAGLE, Jorge (Org.). Educação e linguagem. São Paulo: Edart, 1976. p. 83-97.


Uma reflexão sobre a didática (clique)
Capítulo do livro
AZANHA, J. M. P. Educação: alguns escritos. São Paulo: Ed. Nacional, 1987. p. 70-77.

Trabalho apresentado no 3° Seminário “A didática em questão”, realizado em fevereiro de 1985, na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.


Cultura escolar brasileira: um programa de pesquisas (clique)
Artigo do periódico
Revista USP, n. 8, p. 65-69, dez. 1990/fev. 1991. Dossiê Educação.

Também publicado em AZANHA, J. M. P. Educação: temas polêmicos. São Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 67-78.


Indicação n. 07/2000 e Deliberação n. 08/2000 (clique)
Artigos de periódico
SÃO PAULO (Estado). Conselho Estadual de Educação. Indicação n. 07/2000. Uma reflexão sobre a formação do professor da escola básica. Relator: José Mário Pires Azanha. Acta, n. 308, p. 11-21, jul./set. 2000.

SÃO PAULO (Estado). Conselho Estadual de Educação. Deliberação n. 08/2000. Dispõe sobre credenciamento de institutos superiores de educação no sistema de ensino do Estado de São Paulo. Acta, n. 308, p. 10-11, jul./set. 2000.

II - Documentos propostos para estudo
(documentos: 6)
A pesquisa educacional na FEUSP (clique)
Artigo do periódico
Revista da Faculdade de Educação, v. 9, n. 1/2, p. 41-44, jan./dez. 1983.

Texto preparado para o I Seminário Regional sobre Pesquisa em Educação promovido pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, de 9 a 12 de novembro de 1982. Alguns pontos abordados foram, preliminarmente, discutidos com os professores Celso Beisiegel; José Carlos de Araújo Melchior e Nélio Parra, todos da FEUSP.
Também publicado em AZANHA, J. M. P. Educação: alguns escritos. São Paulo: Ed. Nacional, 1987. p. 58-62.


A Faculdade de Educação e a pesquisa educacional. AZANHA, J.M.P. (clique)
Palestra do professor Azanha sobre a colaboração entre a Faculdade de Educação e o Centro Regional de Pesquisas Educacionais de São Paulo. Documento sem referência.




I Seminário Regional sobre Pesquisa em Educação: Recomendações. (clique)
Realizado no Câmpus da Universidade do Rio de Janeiro, Faculdade de Educação, de 9 a 11/12/1982.
Ofício do Departamento de Administração da Feusp ao Diretor da Faculdade de Educação sobre linhas de pesquisa e dificuldades existentes.
- A pós-graduação em Educação da Feusp. In Faculdade de Educação da USP. Boletim Informativo de 2008.




Pesquisa educacional: algumas questões (clique)
Capítulo do livro
AZANHA, J. M. P. Educação: temas polêmicos. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 79-86.

Texto apresentado na Reunião Técnica de Coordenadores de Pós-Graduação em Educação, realizada na Unicamp, de 10 a 12 de abril de 1991, em Campinas.


Experimentação educacional (clique)
Capítulos do livro
AZANHA, J. M. P. Experimentação educacional: uma contribuição para sua análise. São Paulo: Edart, 1974. p. 9-56.

Capítulo 1 - O estudo científico da educação: aparência e realidade
Capítulo 2 - O papel da experimentação científica
Capítulo 3 - Experimentação educacional


Uma idéia de pesquisa educacional ou um oásis no deserto/Emília Maria Mendonça de Morais (clique)
Artigo do periódico
Revista da Faculdade de Educação, v. 18, n. 1, p. 122-129, jan./jun. 1992.

Resenha da tese de livre-docência de José Mário Pires Azanha defendida na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, em 1990.


II - Documentos propostos para estudo
(documentos: 6)
III- Atos legais e relatórios administrativos
(documentos: 4)
Indicações n. 12/2001 e n. 21/1997, Parecer n. 44/1969 e Deliberação n. 23/1997 (clique)
Artigos de periódico
SÃO PAULO (Estado). Conselho Estadual de Educação. Indicação CEE n. 12/2001. Significado de experimentação educacional. Relator: José Mário Pires Azanha. Acta, n. 313, p. 8-15, out./dez. 2001.

SÃO PAULO (Estado). Conselho Estadual de Educação. Parecer CEE n. 44/1969. Planos de organização administrativa e pedagógica do Instituto de Educação Experimental de Jundiaí. Relatora: Amélia Americano D. de Castro. Declarações de voto: José Mário Pires Azanha, Alpínolo Lopes Casali e Erasmo de Freitas Nuzzi. Acta, v. VI, n. 16, p. 124-137, 1970.

SÃO PAULO (Estado). Conselho Estadual de Educação. Indicação CEE n. 21/1997. Escolas experimentais. Relator: Franciso José Carbonari. Acta, n. 297, p. 32-35, out./dez. 1997.

SÃO PAULO (Estado). Conselho Estadual de Educação. Deliberação CEE n. 23/1997. Dispõe sobre escolas autorizadas como experiência pedagógica, com fundamento no artigo 104 da Lei 4.024/61 e no artigo 64 da Lei 5.692/71. Acta, n. 297, p. 32, out./dez. 1997.










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